Fui para a merda
Ou então agradecia que alguém me fosse lá buscar.
Há loucos por toda a parte, mesmo nos manicómios...
Pegou-lhe na mão e o seu corpo estremeceu. Conheceu-a toda a vida, mas só agora o seu toque despertava todos os seus sentidos. Afastou aquela madeixa de cabelo que teimava em tapar-lhe o rosto e agarrou-a pela cintura para junto de si.
- Gosto muito de ti – disse-lhe.
- Eu também... Nunca nos vamos separar!
A bebida tinha-se apoderado dos corpos. De repente, sentiram-se leves e sem medos. Era como se o sonho ultrapassasse a realidade. Onde tudo era permitido. Não havia regras. A música embalava os corpos que teimavam em manter-se unidos num abraço que era só deles. Tudo deixou de existir. Existiam apenas eles. Eles e a música.
No meio de abraços trapalhões e juras de uma amizade que se prolongaria pela eternidade, os rostos tocaram-se e os lábios responderam à chamada de uma paixão adormecida. Olharam-se e sorriram sem dizer uma palavra. Não era necessário.
A noite acolheu-os enquanto a bebida os começava a abandonar. Não importava. O efeito continuava a ser o mesmo. Continuavam embriagados pelo odor das peles que se tocavam e pelos beijos que trocavam. Foi só mais uma noite.
Tenho saudades tuas. Juro que sim, embora nem sempre pareça, embora não devesse sentir. Sei que seria melhor não ter este aperto no peito. Mas...como o arranco?!
Será possível acabar com a dor da ausência? Ou a dor só se cura com outra dor? Com desilusão?...
Talvez. Pelo menos já tentei. Mas desiludo-me durante um dia, umas horas e depois volto a ver-te imperfeitamente perfeita.
É a espera incessante que me digas qualquer coisa todos os dias, nem que seja um olá fugaz desprovido de qualquer significado para ti mas que faça toda a diferença para mim. Que me faças um gesto que me faça vibrar as entranhas. O teu sussurro é o som que me embala numa noite de insónias, o teu riso o jardim proibido onde me passeio, a tua boca onde me quero perder e assim finalmente me encontrar.
O vento sopra o teu nome e apetece tocar-te com meus dedos que são também teus até te renderes ao inevitável. Imagino a tua voz nos dias que não nos vemos, trago o teu cheiro comigo guardado no bolso do casaco com medo de o deixar fugir, anseio por te dar a mão e poder-te mostrar comigo, mostrar que somos o mesmo e que assim permaneceremos o tempo que quiseres.
Hei-de ter sempre tempo para te afagar o cabelo no meu colo e partilhar contigo as conquistas que são nossas e o meu ombro que é só teu, deixar visíveis em mim as cicatrizes que são tuas, tão visíveis e marcadas como só tu consegues marcar e que comprovam como és eterna para mim.
Porque no meio da minha insanidade momentânea não posso querer mais nada, a não ser querer rever o meu mundo, de ontem de hoje e de sempre... que és tu.