Infância revisitada

Quando eu era puto xarila gostava de fazer um jogo. Nas minhas férias no campo deitava-me no meio do cheiro da terra molhada, com fardos de palha, e punha-me a olhar para as nuvens lá no alto. Procurava por aviões a quem pudesse dizer adeus, pensava nos planetas cuja vista não alcançava e fixava-me nas nuvens. Fofas como algodão doce, fugidias como uma enguia, misteriosas como um filme de Hitchcock, a minha atenção ficava presa nelas. E eu divertia-me a dar-lhes formas e nomes. Construía equipas de futebol, jardins zoológicos e refeições deliciosas tudo num só.
Hoje tenho uma grande nuvem escura e ameaçadora de chuva a pairar sobre mim e não tenho forma ou nome para lhe dar. Mas um amigo meu metereologista já me avisou que a seguir à tempestade vem a bonança e que a chuva dessa nuvem ainda vai alimentar o que o sol que virá a seguir vai permitir crescer.