sexta-feira, maio 05, 2006

Tascas, o último reduto dos duros

Se há coisa bonita no nosso belo Portugal são as tascas. Passo a explicar.
Não há outro sítio onde haja melhor discussão técnico-táctica dos jogos do fim de semana passado... O cheiro tóxico que vem das pipas de vinho é algo mítico, só comparável com o que vem duma fábrica de celulose... Quando se olha à nossa volta parece que está tudo com a cara pintada para ir ver jogos da Selecção ou do Benfas. Ou é isso ou então vão todos morrer de cirrose em menos de meia hora... Os calendários com as gajas nuas, suadas e bronzeadas numa garagem suja, em cima de uma mota nunca falham... A cozinheira chama-se sempre Maria, anda de avental e sapatos ortopédicos e o marido Joaquim está sempre com o palito ao canto da boca e leva os pratos num ritual histórico: coça a micose, tira a cera com a unhaca e pára no balcão a beber um copito de aguardente num daqueles copos que nem se consegue ver o fundo. No fim do penalty canta o inevitável "E ninguém pára o Benfica allez oh"... Quando lá estamos aparecem sempre velhos com garrafões de 5 litros a abastecer com vinho carrascão da pipa... O balcão parece sempre um pântano, uma mistura de vinho com tremoços, pevides, unhas cortadas e boletins do Euromilhões... O prato com mais saída é sempre a entremeada ou o cozido à portuguesa... Não se vendem garradas de água a ninguém excepto se forem maiores de 85 anos... O maior sinal de sofisticação numa tasca é quando metem uma toalha de papel na mesa. É claro que é pedaços dessa toalha que temos de limpar a boca porque guardanapos...esquece lá isso... A carta de sobremesas inclui: mousse de chocolate caseira, um copito de aguardente ou um de jeropiga e nada mais... Numa tasca as casas de banho só têm urinóis porque sanitas ocupam demasiado espaço. Se és gaja fazes de pé e é se queres!... Numa boa tasca nunca podem faltar caracóis, tremoços, pevide, vinho, o Record, o 24 Horas e o Crime... Não há evento desportivo que ultrapasse em mediatismo, emoção e momentos de tensão um campeonato de sueca na tasca com aqueles baralhos amarelos e cheios de bolor... Como em qualquer tasca decente não há televisão, o rádio do tempo da 1ª Guerra Mundial está sempre na Renascença ou a dar fados do Alfredo Marceneiro...

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