A mudança

Antes de ligar o portátil pensou "Ultimamente só tenho feito amor com máquinas...é com o computador e o telemóvel que tenho contactos mais íntimos...".

Trocas de toques e de sorrisos se seguiram. Esquecendo-se que às pessoas que andam a discutir o amor virtual o desejo acontece todo na cabeça. E como são pessoas perversas pensam em objectos estranhos, próteses e interfaces entre a carne e a máquina. Mas nada acontece sem ser na cabeça, é ela a derradeira máquina.

Largado o cigarro no cinzeiro, reparou no isqueiro desgastado de tantos anos de uso. Segundo me disse um dia "A quem duvida do poder dos objectos só posso dizer que há os que já não me servem, contudo persistem apenas porque tenho pena deles. Porque essa é a principal estratégia dos objectos, inspirar misericórdia.Não concordas?". Respondi-lhe com um sim envergonhado.

Notei no isqueiro caído para um canto da mesa a calma serenidade das coisas desalinhadas e julguei que as coisas estão fartas de estar sempre nos mesmos sítios, fartas de nos ouvir falar.

Definitivamente, as coisas têm tendência a mudar. Assim ao jeito de um travesti quando sai de casa para ir para o trabalho...