quinta-feira, julho 12, 2007

Desconfiemos dos eloquentes

O dom da palavra tem muito que se lhe diga. E pouco que se lhe desconte.
São aflitivas as pessoas que falam bem em público e que conseguem fazê-lo minutos a fio sem um tropeção, sem um silêncio, sem um sintoma de hesitação. Pessoalmente, desconfio dos eloquentes. De onde lhes vem o dom? E para que lhes serve, senão para rebaixar os demais com a sua destreza tão vazia de humanidade? Se não há linguagem fora do pensamento, pensarão eles como falam, sempre a direito?
O problema da eloquência é que exige ser pago na mesma moeda, tal qual um lisonjeador. Um lisonjeador o mais que quer é ser lisonjeado e um eloquente o que mais quer é um público tecnicamente apto para lhe proporcionar a próxima deixa. E embalado lá vai ele outra vez! Se já privaram com pessoas eloquentes conhecem bem quanto custa suportar a baixeza dos seus truques. É da maior conveniência desmascará-los.
Um eloquente é sempre um vaidoso apaixonado por si próprio. Eles não falam para nós (é preciso ter isso em consideração), eles falam porque gostam de se ouvir. E, ouvindo-se, julgam que a sua satisfação é a nossa (nada mais falso). Um eloquente parte sempre do princípio errado de que o seu auditório é menos qualificado do que ele. E esta é a razão pela qual não se calam e não dão conta do ar enfadonho que provocam com os seus insuportáveis “não obstantes” e “na realidade” e com os seus sorrisinhos de auto-satisfação sempre que terminam, sem se engasgar, uma frase de construção mais custosa.
A eloquência é, regra geral, uma coisa muito maçadora. Há pessoas que sendo sucintas têm o dom da palavra, mas têm ainda um bom-senso maior. E isto sim, é um atributo.

0 Enxovalhanços:

Enviar um comentário

<< Home